segunda-feira, 27 de outubro de 2008

rotinas



Não há descanso, os meus dias são todos iguais. Hoje apanhei a Dona Olinda a desenhar caprichosamente no vidro da mala do meu carro a seguinte inscrição: “LAVE-ME SR. INGENHEIRO.”
Tanto quanto me foi possível, fiz de conta que não vi; sorri, dei um piparote num aspersor, perguntei-lhe descontraidamente como é que ela estava da menopausa e ela lá fez relatório de palpitações e achaques.
Eu gosto da Dona Olinda e ela gosta de mim. Sempre que passo por ela compõe-me o colarinho. E reparem que ela não escreveu “LAVA-ME PORCO”, como seria apropriado e é costume nas mesmas circunstâncias.

Bom. Para além disto, parece-me que se justifica deixar ao vosso cuidado a memória de um episódio extraordinário que, se convenientemente reflectido, poderá, porventura, ajudar a compreender o estado a que chegaram as coisas nesta lamentável nação.
Pois foi assim. Seguia eu à hora de almoço numa estrada que eu cá sei, quando constato uma locomotiva imobilizada na via à minha direita.
Vindo da Júlia, onde teria estado a consolar-se com uma sopinha, o maquinista atravessa a estrada com uma pachorra que pôs em franjas os nervos da minha pressa. Reparem que tudo isto se passou onde não há estação ou apeadeiro e onde há apenas uma via.
Agora pergunto: pode-se deixar assim a ferramenta em cima dos carris, apenas para ir à bucha? Logo ali, só porque as sopas da Júlia não são nada más?
É que ainda são umas valentes toneladas de ferro cor-de-laranja movido a gasóleo.
Então mas esta merda agora é assim?
Será isto legal?
Tenho muitas dúvidas.
Foi por isso que achei por bem deixar o assunto à vossa melhor consideração.

5 comentários:

  1. Considerarei, garanto que considerarei (sempre quis escrever esta palavra), mas já não vai ser hoje. É que o assunto é pesado.

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  2. É como diz, querida amiga. Um porradão de zeros à direita das toneladas.

    Aguardo o seu despacho no tempo que tiver por conveniente e necessário.

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  3. Por embaraço apertado e uma maçã de Adão pouco flexível vou ali matar um berloque e já não volto. Nunca esperei dizer isto hoje; filha da puta de posta bem escrita! Azeus.

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  4. Monsieur Dutilleul, c´est moi!

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