No curto epílogo de “Eu e os políticos”, o autor declara que a sua “…única ambição … foi deixar um testemunho que possa ser útil a quem, no futuro, tente reconstituir a história deste período.”
E, mais à frente, acrescenta: “Só guardei para mim aqueles segredos cujo interesse público, em meu entender, não mereceria os danos que a sua divulgação poderia causar.”
Como escrevi antes, ficou-me a suspeita de que o autor deixa muitas coisas por contar – e essa suspeita foi grande ao longo da leitura das páginas dedicadas ao trampolineiro e das personagens que o rodeavam. De onde não esteja absolutamente certo da justeza do critério do autor na omissão de “segredos”. Não por desonestidade porque me parece estruturalmente honesto e incapaz da mentira. Mas porque confirmei a impressão que já tinha antes de ler o livro: Saraiva padece de uma quase surreal candura e muito ou tudo do que se lhe atribuiu de maledicência não é mais do que um dos efeitos dessa candura. Mas até por causa dela, a anunciada ambição do autor parece-me perfeitamente conseguida.
Não é um livro “de mexericos” e não merecia toda a série de deselegâncias com que foi acolhido. É um documento escrito por alguém que, por força da sua profissão, privou com muitos dos protagonistas políticos do regime democrático.
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