terça-feira, 7 de junho de 2016

temperantia et continentia

Ontem morreu uma colega e a mãe de uma amiga. Também colega.
Por essa altura fazia uns cigarros na sombra do sobreiro. No tabaco caíram florações secas do sobreiro que dão aos cigarros um sabor estranho e perfumado. De uma especiaria que não sei bem qual.

Hoje, depois do serviço, andei a transpirar pelo jardim. A modos de quem quer fugir de tudo aquilo.
Cuidar do relvado.
O tomilho está um esplendor, as santolinas despertam do inverno e as nassellas dançam ao bafo mais tímido.

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A Dona Micas escancara a janela perra sempre que na Rua Afonso de Albuquerque algum cachopo solta uma caralhada nalgum passe fora de feitio.

Na expetativa de obrar temperança, à frente do carrapito fala sempre na autoridade da míngua de exaltação. Com a boca pequena, nariz grande e olhos pequenos por trás da armação de massa castanha. E na da idade; nunca nenhum cachopo conheceu o marido da viúva.
Nada que impeça um ou outro de a mandar para o caralho ao fim de vários rugidos de janela.

Pois foi no anexo da Dona Micas que o Fabiano deu de estardalhar que aquela merda era dele.
Às cinco da manhã, vejam lá.

Disse a Belita que o Fabiano se enganou; o anexo era o do ferro-velho - um cigano de primeira água, se me perguntam, esse ferro-velho -, ao lado da casa da Micas.

Como o gajo chegou lá ainda é coisa de mistério. Talvez pelo campo da bola, trepando o muro que fica logo por trás do fio de ciprestes que bordeja o campo.
Àquela hora da noite, vejam lá.

A rua em alvoroço ao estralejar de telhas partidas com o pau do estendal onde a Micas tinha cuecas ao vento, ela na rua também, em combinação de flanela às florinhas, com carrapito – ficou-se a saber que nem a dormir se podia vê-la sem carrapito -, chega a polícia.

Entram pelo corredor adentro, os cachopos atrás, a ver no que aquilo dava, atravessam o quintal e dão com o Fabiano. Faca ferrugenta numa mão, torradeira na outra.

Rebéubéubéu para um lado, rebéubéubéu para o outro, e acaba um dos polícias com a torradeira na cabeça.

Apaga-se a coisa com o Fabiano e o polícia no hospital e dão de jurar que o Fabiano estava bêbado.

Não acredito.
O Fabiano não bebe.

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