quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

repartir



“Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte”.

Era uma coisa que ouvia em pequeno - e felizmente está mais ou menos esquecida - mas que me deixava sempre em enorme espanto. Aparentemente, para a “sabedoria popular”, de quem detinha o bolo e a responsabilidade de o repartir, esperava-se que procedesse em roubo. Durante muitos anos ponderei a hipótese de que tal “sabedoria” resultasse de uma resiliente resignação, uma espécie de salvo-conduto ético para um salve-se quem puder em fim do mundo. Mas porque me achava sempre a ser tolo e sem arte, aquilo ofendia-me.
A quase indiferença e resignação com que a aparente maioria dos meus compatriotas ainda hoje encara a corrupção do poder político envergonha-me e ofende-me. A aparente indiferença em relação ao aparato jurídico literalmente desenhado à vírgula -com a complacência e cumplicidade de todas as forças políticas com representação parlamentar – com o visível propósito de tornar inimputável todo o poder político por crimes de corrupção, é ofensa e vergonha para qualquer pessoa de bem.
Vem isto a propósito dos cidadãos romenos que em praças de gelo saíram à rua para dizer aos seus representantes democraticamente eleitos que vão longe demais quando explicitamente legalizam a corrupção. Sem o pudor do cuidado de o fazerem à sorrelfa como por aqui fazem.
Roménia, Ucrânia, Nigéria, Angola, Portugal, Brasil,… É só relacionar as posições relativas desses ou quaisquer outros países em tabelas de índices de corrupção com as posições relativas de índices de pobreza no concerto das nações.

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