Sabia que era dele que rumorejava aquela boca. Sabia, não, não podia saber. Suspeitava. Ouvia o filme e supunha que o representavam, uma suspeita alimentada pelo mau-hálito dos pequenos sopapos de censura que a boca trejeitava. Mais das vezes apenas se divertia a ver a representação no filme em que o figuravam. Havia porém, coincidências que o aturdiam. Denotavam trabalho que lhe parecia maníaco no hiper-realismo do retrato que lhe faziam no seu quotidiano mais banal. Depois, em cima disso, os delatores mostravam-no a representar os filmes das suas mais sórdidas fantasias.
Era nessas alturas que se afundava num enorme mau estar que era todo físico, com os sintomas da mais extrema náusea e fadiga. Não por força dos delatores, mas por força de quem se consentia a baixeza de os ouvir. Sem os desencorajar.
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Ironicamente, a Suite de Lady MacBeth, que levou Shostakovich à desgraça, é hoje mais ou menos obscura e a Valsa é talvez o seu trabalho mais ouvido. Com mais ou menos ironia, todos os inquiridores acabam como Zakrevski. Inúteis para todos os efeitos. Como todos os delatores.
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