quinta-feira, 26 de abril de 2018

a melancólica fantasia do professor de espanhol

Que estava interessado numa AK-47 foi o que ele disse ao balcão da Espingardaria Belga, ali ao Martim Moniz.

”-Eh, lá... caça grossa, hem? Profissão?”
”-Professor.”
”-Academia militar, estou a ver...”
”-Não, não, eu sou mesmo professor de espanhol.”
”- Bom, para professores de espanhol, temos aqui estas berettas de 6mm que estão a sair muito bem.”

Põe em cima do balcão uma pistola pequerrucha de plástico.
Tamborila com os dedos em cima do tampo de vidro.
Hesita.
Puxa de uma folha A4 impressa em caracteres miudinhos e com uma esferográfica vai enumerando os vários documentos necessários aos candidatos à propriedade da beretta.

”-Demonstrar carecer da licença por razões profissionais ou por circunstâncias de defesa pessoal ou de propriedade; ser idóneo; ser portador de certificado médico; ser portador do certificado de aprovação para o uso e porte de armas de fogo; ...”

”-Chega, chega, pare! Só papeis, só papeis, como é que este país pode andar para a frente com uma coisa assim? Hã?
Eu até queria fazer as coisas pela lei mas se é assim mando vir a arma pela internet e nem pago impostos.”


Dizia ele a meia boca como se falasse consigo:
”-Era uma limpeza. 
Uma Columbine, mas ao contrário, ver-vos a fugir que nem ratos... 
E tu, Hugo, tu eras o primeiro a marchar. 
E sabes o que eu dizia depois? Pimbas, este já está!. 
Era o que eu dizia.”

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