"Quando o nosso orçamento é garantido pelo Estado, votaremos no político que prometer aumentá-lo. Deste modo, tem sido possível aos partidos de esquerda aumentarem uma sólida votação em bloco, pagando esses votos com os impostos daqueles que votam de outra maneira. Este envolvimento do estado nas decisões mais básicas dos seus dependentes restringe drasticamente a margem de manobra. Na França de hoje, solicita-se a um corpo cada vez mais reduzido de contribuintes de classe média que mantenha tantas pessoas na dependência do Estado que a taxa máxima de tributação teve de ser aumentada para 75 por cento, de modo a cumprir o orçamento – e mesmo assim não o cumpre, uma vez que as taxas de tributação nesse patamar conduziram à emigração ou à inactividade das pessoas com capacidade de a pagar.
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Este cenário, de acordo com o qual os produtos do trabalho humano são essencialmente desprovidos de dono até que o Estado os distribua, não é meramente o posicionamento padrão do pensamento de esquerda. Entrou no programa universitário da Filosofia Política, de modo a tornar-se virtualmente inatacável a partir de qualquer perspectiva da disciplina.
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É precisamente neste momento que devemos procurar uma linguagem clara e transparente para descrever o que está em causa. O Estado socialista não redistribui um activo comum. Cria rendas sobre os rendimentos dos contribuintes e oferece essas rendas aos seus clientes privilegiados. Esses clientes agarram-se às suas rendas votando naqueles que lhas garantem. Se houver votos suficientes, as rendas tornam-se uma posse permanente dos que são suficientemente afortunados para as reivindicar. Testemunhamos então, como na Grécia, a criação de uma ‘classe de ócio’ que utiliza o Estado para extrair rendimento de outrem. Ao mesmo tempo, o poder do Estado aumenta: quando mais de metade da população consta da lista de pagamentos do Estado, como na França de hoje, o produto social está, com efeito, confiscado àqueles que o produzem e transferido para as burocracias que o concedem. E, à medida que o seu orçamento aumenta, estas burocracias tornam-se cada vez menos responsabilizáveis perante os eleitores.”
Roger Scruton, Como ser um conservador, ed. Guerra & Paz, 2018, pp. 68-69
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