sexta-feira, 15 de setembro de 2023

o drama do beijo - parte V

Não creio que a "estátua" de Camilo, graciosamente cometida por Francisco Simões, possa ser descrita como uma obra prima: não é. Não gosto mesmo nada da "estátua” que apenas agora vi em algumas fotos a pretexto do drama. Nem aprecio o trabalho do seu autor que em tempos também ilustrava as capas dos livros de David Mourão-Ferreira. Cuja poesia, aproveito para dizer, também me “desgosta”. 
Quanto a Mário Cláudio, subscritor e provável autor do texto de uma carta que reclama a remoção da dita “estátua”, cumpre-me informar que me parece ser senhor de uma escrita de tal maneira afetada e pomposa que nunca consegui acabar a leitura de qualquer dos seus livros. Digamos que são para mim um "desgosto estético" que não sobrevive a alguns dos meus preconceitos. Também é autor de literatura para crianças, mas não me pronuncio acerca dela. Seja como for, com esta "notícia do meu desgosto" pela literatura de Mário Cláudio, ninguém deve presumir que exijo que os seus livros sejam sujeitos ao teste dos 233 graus Celsius ou reciclados em favor de qualquer outra função.
Além do “desgosto estético”, com que reclamam “o favor higiénico de mandar desentulhar aquele belo Largo de tão lamentável peça e despejá-la onde não possa agredir a memória de Camilo", os trinta e sete subscritores da carta também invocam a natureza “mais ou menos pornográfica” do “exemplar”, atributo que lhe foi aposto por subscritores como Ilda Figueiredo, “vereadora da CDU”, o “ex-banqueiro” Artur Santos Silva, o “antigo deputado comunista” Honório Novo e o “conselheiro” António Lopo Xavier.
Aparentemente a carta foi levada “a despacho” e o doutor moreira despachou "…concordando com o que tão ilustres cidadãos nos suscitam” e solicitando “que se proceda à remoção daquele objeto…”
Não sei quantos quilos de bronze Francisco Simões ofereceu ao município do Porto. Mas é seguro que saíram muito mais em conta que os muitos quilos facturados por Dinis Ribeiro pelo seu “Guterres a olhar para Vizela” ou ainda pelo seu “D. Afonso Henriques”, artigo para exportação. Serão “desgostos estéticos” para muito boa gente e assunto mais ou menos “pornográfico” para muitos mais por serem os contribuintes a pagar por tal entulho. Cuja remoção ainda não foi exigida por ninguém.
Talvez porque Vizela não tenha “ilustres cidadãos”. 
Como o conselheiro xavier.

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