quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

a união europeia e a armadilha de tucídides

O mundo vive um momento agudo da armadilha de Tucídides e o crepúsculo americano torna tudo muito perigoso. No confronto em que a Europa vem sendo arrastada, a China - sem por isso descurar os meios de defesa convencionais - escolheu disputar a hegemonia no único campo de batalha que ainda é aceitável no chão duro de moralidade: o da economia.

E venceu. O chamado “ocidente” em que nos julgamos não pode continuar a fazer de conta. Como por esta altura já deveria ser transparente para todos, o nosso “aliado” americano escolheu fazer a guerra por meios convencionais e vem-nos arrastando para essa escolha através da ferramenta de que faz mais uso para lhe enevoar as evidências de imoralidade: a OTAN. Antagonizar a Europa com a Rússia foi e é parte do conflito hegemónico que os EU têm com a China e de que não sobra qualquer espécie de interesse, seja para a Europa, seja para a Rússia.

É ocioso lembrar a origem desta organização “defensiva” e aquilo que seria a sua natural obsolescência depois da unificação alemã e o desmantelamento unilateral do Pacto de Varsóvia por parte da F. Russa. Em vez disso, vimos a sua expansão em direcção a leste apressando o cerco através da Ucrânia, um país devastado em nome dos interesses americanos. Conseguiu isso através da uma técnica que foi aperfeiçoada durante muitos anos no centro e sul americano: o golpe de estado. Com ele e a guerra civil que lhe sucedeu, morreram entre 14 e 15 mil russos ucranianos que viviam nas regiões que decidiram pela autodeterminação ou integração na Rússia (o número de vítimas é habitualmente subestimado).

Não foi a primeira vez que esta organização “defensiva”, totalmente dependente e ao serviço dos interesses americanos, levou a guerra à Europa depois de 1945: não nos esquecemos de Belgrado. Guerras favorecidas pela complacência mais ou menos activa de governos europeus que adotam atitudes mais próprias de servos que de políticos realmente capazes de defender os interesses europeus. Neste aspecto, o cúmulo da sobranceria americana foi a humilhação a que Biden sujeitou Scholz após a sabotagem dos Nord Stream 1 e 2. A Europa viu o rosto de Scholz atormentado por uma impotência cuja origem nunca viremos a conhecer. O povo alemão viu. E os europeus vivem hoje a estagnação das suas economias e o custo da energia inflacionado.

Mais directamente confrontados com as consequências destas políticas, os eleitores fazem crescer oposições pouco dispostas a contemporizar com este estado de coisas. E sucedem-se escândalos de sinal antidemocrático que as visam combater. Como na Roménia em que se anulam resultados eleitorais sob os pretextos mais absurdos e com a conivência activa da UE, ou como o do 2º maior partido político da Alemanha ser impedido de participar nos debates políticos realizados por um canal de televisão alemão subsidiado pelos contribuintes em oito mil milhões de euros…

Os mais recentes ditérios do sr. Trump oferecem a supina vantagem de deixar mais claras aquelas que deveriam ser as mais urgentes prioridades geoestratégicas para os europeus:

1) encetar trabalho diplomático que tenha em vista a reposição da normalidade das nossas relações com a Rússia, um país fundamentalmente europeu. Se isso ainda for possível. Porque na tentativa de fragilizar as relações da Rússia com a China, os americanos podem muito bem ter conseguido que já sejamos descartáveis por parte da Rússia;

2) Colaborar activamente no projecto de uma solução defensiva pan-europeia que não acolha interesses geograficamente exógenos. Naturalmente, quando e se possível, a médio prazo, esse projecto deve ser aberto à participação da Rússia, como aliás em tempo foi sua vontade expressa.

Nada disto será possível enquanto Bruxelas for habitada por cavalheiros como o doutor costa.

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