sábado, 4 de janeiro de 2025

"nós" e os outros


A diabolização dos al-Assad que está em curso pelas cadeias de televisão não é um exercício inédito. Não deixa ainda assim de ser tão ou mais repugnante que aqueles que se fizeram com Gaddafi ou Saddam Hussein e respectivos assassínios. Se estes foram autores de episódios que em rigorosamente nada abonam a seu favor, os al-Assad foram patronos de um oásis de moderação e respeito pelas diferentes nações étnico-religiosas que conviviam no espaço territorial artificialmente definido pelo imperialismo francês.
Tudo isto porque após o 11 de setembro, Bashar al-Assad cometeu o pecado mortal de não se aliar aos “bons” e escolher os amigos entre os “maus”. De um dia para o outro passou de anfitrião e convidado com honras pela administração americana e monarcas europeus, a pária da comunidade internacional, acusado de usar armas químicas contra o seu próprio povo e de ter transformado a Síria num narco-estado.
Com o mundo “ocidental” ainda a ser olhado pelo resto da humanidade com a resignação que os impotentes arranjam para os cínicos, com a hegemonia americana em direcção à irrelevância geoestratégica, o mundo olhará os europeus com a indiferença que se reserva a quem é incapaz de ser mais lúcido na hora de escolher quem os governa dando a mão ao bully mais odiado do pátio. Ou seja, de cima para baixo.



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