segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

estarão os comentadores a ser vítimas da intoxicação programada dos meios em que comentam?

Acabei de ver em diferido um desses programas de comentário político em que 3 (três) comentadores “residentes” e um convidado ouvem sem protesto afirmações temerárias relacionadas com um alegado “declínio” da Rússia.
 
Que estas coisas sejam diariamente afirmadas em telejornais, já não oferece grande mistério. Que elas se reproduzam na boca de pessoas apresentadas como analistas políticos - alguns deles com cátedras – já é coisa mais extraordinária. Com efeito, não obstante a censura a que a Europa vem sendo sujeita em relação aos serviços noticiosos de origem russa, é necessário partir do princípio de que um analista político dispõe de meios capazes de superar essa limitação de modo a informarem-se acerca das realidades políticas e económicas daquilo que comentam. Mas supondo-os pouco activos na iniciativa de deles fazerem uso, seria ao menos de esperar que estivessem a par do que escrevem alguns dos seus pares, sobretudo quando até episodicamente os nomeiam. Como é o caso de Emmanuel Todd que em 2023 escreveu o seguinte a pretexto do mesmo assunto e em capítulo dedicado:

“A resiliência da Rússia foi uma das grandes surpresas da guerra. Não o deveria ser: foi fácil de prever e será fácil de explicar. A verdadeira questão é: porque é que o Ocidente subestimou o seu adversário a tal ponto quando os seus bens não estavam escondidos e os dados a seu respeito eram acessíveis? Como é que, com serviços de informação de cem mil pessoas só nos Estados Unidos, poderiam imaginar que o banimento do Swift e demais sanções fariam capitular este país de 17 milhões de km2, que dispõe de todos os recursos naturais possíveis e que, desde 2014, se preparava abertamente para enfrentar tais sanções?”*

Dando como inquestionável – generosidade da minha parte - a ideia de que a Rússia é um “adversário” da Europa ocidental (a Europa tem agido nessa presunção…): será que os comentadores têm o direito de ignorar os factos e e ao mesmo tempo pretenderem que os levemos a sério? ?
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*Emmanuel Todd, La Défaite de l’ Occident, Gallimard, 2023, p. 20

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