Que estas coisas sejam diariamente afirmadas em telejornais, já não oferece grande mistério. Que elas se reproduzam na boca de pessoas apresentadas como analistas políticos - alguns deles com cátedras – já é coisa mais extraordinária. Com efeito, não obstante a censura a que a Europa vem sendo sujeita em relação aos serviços noticiosos de origem russa, é necessário partir do princípio de que um analista político dispõe de meios capazes de superar essa limitação de modo a informarem-se acerca das realidades políticas e económicas daquilo que comentam. Mas supondo-os pouco activos na iniciativa de deles fazerem uso, seria ao menos de esperar que estivessem a par do que escrevem alguns dos seus pares, sobretudo quando até episodicamente os nomeiam. Como é o caso de Emmanuel Todd que em 2023 escreveu o seguinte a pretexto do mesmo assunto e em capítulo dedicado:
“A resiliência da Rússia foi uma das grandes surpresas da guerra. Não o deveria ser: foi fácil de prever e será fácil de explicar. A verdadeira questão é: porque é que o Ocidente subestimou o seu adversário a tal ponto quando os seus bens não estavam escondidos e os dados a seu respeito eram acessíveis? Como é que, com serviços de informação de cem mil pessoas só nos Estados Unidos, poderiam imaginar que o banimento do Swift e demais sanções fariam capitular este país de 17 milhões de km2, que dispõe de todos os recursos naturais possíveis e que, desde 2014, se preparava abertamente para enfrentar tais sanções?”*
Dando como inquestionável – generosidade da minha parte - a ideia de que a Rússia é um “adversário” da Europa ocidental (a Europa tem agido nessa presunção…): será que os comentadores têm o direito de ignorar os factos e e ao mesmo tempo pretenderem que os levemos a sério? ?
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*Emmanuel Todd, La Défaite de l’ Occident, Gallimard, 2023, p. 20
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