terça-feira, 29 de dezembro de 2015

paolo conte



Parece que depois de "Nelson" (2010), com 40 anos de carreira, Conte começou a suspeitar já não ter nada a acrescentar ao que havia feito e começou a ponderar a reforma.
Acaba a fazer "Snob" (2014) que foi criticamente acolhido com assanhada hostilidade.
Antes de rabiscar isto estive a reler algumas dessas críticas e até li outras que não conhecia. Nas razões invocadas para depreciar esta coisa fantástica parida por um tipo com quase oitenta anos, voltei a não conseguir perceber uma única razão que não esta: "Snob" não é para os ouvidos de qualquer um. Definitivamente não é para imbecis e preguiçosos amamentados nas madonas da banalidade.
"Snob" é um navio de faixas picadas pela musica sertaneja, cubana, espanhola, salões de baile, bollani, swing, foxtrot, debussy, fellini, acordeão, milongas, metais soprados em fantasia de beiço, uma orgia sonora que abocanha todas as cores e coordenadas sem que em momento algum nos ocorra a ideia de que esta barroca sumptuosidade não é orquestrada por um génio musical excecionalmente dotado, capaz de se reinventar num tempo em que todos estaríamos mais ou menos mortos.
Tão único que num destes dias em que o ouvia (com a minha filha, que o adora), o meu mais velho - numa das cada vez mais raras ocasiões em que abre a boca - me perguntou numa mistura de espanto e escárnio divertido: "O que é isto?"
"Isto" é o génio.
Dobrem os joelhos, rapazinhos. E ouçam. E depois de ouvirem, ouçam outra vez. Talvez lá cheguem. Nem tudo é fácil e são muitas as melhores coisas da vida que nela se insinuam com uma irritação.

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