sexta-feira, 30 de setembro de 2016

p. 176 (notas de leitura)

“Encontrámo-nos depois mais duas ou três vezes – e fiquei sempre com a mesma impressão: o seu principal objetivo era trepar as escadarias da política e concentrava aí todas as suas energias. Era um tático. Não o preocupava a discussão das ideias, mas o modo de subir. Faltava-lhe em densidade o que lhe sobrava em ambição.”

Viria a ser presidente do PSD, sucedendo a Marques Mendes, e presidente da Câmara de Gaia.
Foi nessa qualidade ou a esse pretexto que Luís Filipe Menezes apareceu um dia numa revisteca – Visão ou Sábado – que folheei em cima da mesa de snooker lá no café. Dessa “aparição” recordo com especial nitidez uma fotografia do carro de “presidente da câmara de Gaia”: um Audi dos gordos com ar de ser coisa blindada. Do teto pendiam monitores lcd, havia banquetazinhas para os pés e luzinhas por todo o lado. Recordo-me muito bem desses detalhes porque, precisamente por essa altura, o primeiro-ministro belga fora demitido na sequencia de um escândalo relacionado com a aquisição de um carro para seu serviço que era exatamente igual. Através do El País (que na altura lia em dias de Babelia), tive notícia de que a imprensa belga se comprazia a descrever os extras com que o carro era equipado – falavam mesmo nas tais banquetazinhas para os pés. Na sequência, a Bélgica viria a viver uma crise política que levou tempo a resolver-se e, sem governo, viria a experimentar um dos anos mais prósperos da sua história recente.
Achei estranho que ninguém tivesse reparado no carro de funções de um município que não era mais que um arrabalde - colossalmente endividado - da segunda cidade do país.
Não me recordo se na altura a imprensa portuguesa chegou ao ócio de falar em “menezismo”.
Deve ter chegado.

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