domingo, 2 de outubro de 2016

p. 193 (notas de leitura)

“Ele era secretário-geral do PSD, o homem do aparelho que Cavaco Silva não levou para o Governo de 1985, e eu achava-o irritante e conflituoso.”

Meia dúzia de anos depois, (“[e]m 1991 ou 1992…”) estava José Pedro Castanheira, jornalista do Expresso, a dar voltas à cabeça na tentativa de compreender como é que um modesto advogado de província acabado de chegar às “governações” podia acumular finanças lícitas para o luxo que começa a ostentar para os lados do Estoril; “[n]ão se trata de ‘notícia’ mas de uma ‘presunção’.

Depois de sair do Governo [com maiúscula, conforme o original], Dias Loureiro começou a evidenciar alguns sinais exteriores de riqueza e até uma despropositada (e fatal) tendência para a ostentação. [fatal, porquê, caro Saraiva? – Pergunto-me eu para aqui…]. À refeição manda vir vinhos caríssimos, segundo me contam.”

As evocações de Saraiva continuam-se pelas magras quatro páginas que lhe dedica, em exemplos em que Dias Loureiro se oferece “…para [os] mandar buscar a todos onde for preciso, inclusive de helicóptero.” Para almoçar na Herdade do Esporão.
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Cavaco Silva, o homem que reclamou para si próprio uma seriedade acima da média dos mais comuns mortais, pareceu ter sempre esta extraordinária capacidade de se rodear deste género de pessoas. Que, sabe-se lá como, desencantava a pontapé sob um qualquer calhau de granito numa qualquer cova do país profundo.
Com Dias Loureiro a transpirar “riqueza”, estalava “o escândalo do BPN” e “surgia entre os suspeitos, ainda que recusasse energicamente qualquer ato ilícito e eu acreditasse na sua inocência. Não por achar que era um anjo – mas por achar que era suficientemente inteligente para não se deixar apanhar numa ilegalidade evidente.” Aquela coisa do Ministério da Administração Interna deve ter ajudado na escola. E os documentos escondidos na casa de banho foram amendoins para quem sabe acompanhar-se de um libanês manhoso em viagens pela América Central.
As controvérsias não arranham quem sabe do edifício jurídico que no parlamento é laborado à vírgula  para inocentar as patifarias de quem se agiganta nas idas à lata das bolachas.

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