quarta-feira, 4 de março de 2015
Foi agora há pouco. Vinha eu de uma coisa de porco preto e vinho tinto quando oiço cânticos ventaneados da Igreja Matriz de Santo António. Espreito da lateral entreabrindo a porta e as narinas são invadidas por um odor que ainda por aqui está, coisa de rosmaninho e mirra.
Volteio entrada pela frente, na circunspeção das costas dos crentes que a enchiam.
Temporariamente arruinada a harmonia espiritual em razão de duas peanhas subtilmente desalinhadas no ladeio de um cristo austero, dou-me à comunhão de uma igreja.
Está de finados, a cerimónia. Mas chego ainda em tempo de assistir ao afino dos escuteiros numa melodia doce e comovente, uma comoção sabiamente orquestrada no aludido perfume.
Resisti sem esforço ao abraço e beijo a duas moças que por ali estavam na saudação “em paz de Cristo” para me dar por contente em vigoroso aperto a crente do meu género que por ali estava em perto. Suficientemente vigoroso para o ver em suspeita de comoção etílica.
Ao lerem o desabafo que agora faço cuidarão em achar os mais íntimos que estou em maré cínica.
Enganam-se.
Nem fazem a menor ideia do quanto lamento o ter perdido a bênção da fé.
Tudo por causa de um estore que se avariou, lá por alturas da minha mocidade.
Amanhã estarei em Monsaraz.
(Vamos lá ver como se porta o vinho.)
(2013)
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