domingo, 25 de setembro de 2016

p. 61 (notas de leitura)

Veja-se, por exemplo, o António Horta-Osório.
Também dele o autor não chega a compreender a razão do convite.

(quase tudo acontece à mesa, o país “acontece” em restaurantes finos à hora de almoço…)

“Ele depois foi para Londres, para o Lloyds, teve um esgotamento, passou um mau bocado. Mas notei nesse contacto que não era um português típico. Era muito reservado, pouco falador… Olhava para as pessoas de baixo, com um sorriso enigmático, como se estivesse a medi-las, sem no entanto se revelar.”
Estão-me a ver isto? É ou não é fabuloso de surreal? É ou não é uma descrição absolutamente fabulosa?
É que se trata de um almoço numa sumptuosa sala de um banco onde não acontece rigorosamente mais nada que isto e "uma troca de impressões sobre a inveja". Em que, para além dos dois comensais, "a única presença humana era um empregado que entrava silenciosamente de vez em quando para servir".

- Mário de Carvalho, tem aqui uma bela história, azar o seu se não ler o livro.
Estão-me a ver o Horta-Osório a olhar de baixo com sorriso de Gioconda, a medir, a medir, para depois dar em pateta de fadiga?
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Se pensam que estou em modo irónico na descrição da passagem citada é apenas porque não me conhecem bem; acho-a sinceramente deliciosa e profunda.

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