sexta-feira, 18 de agosto de 2017

de como escrever nem sempre é triste*

Li, gostei e o assunto é interessante.
Mas enquanto a Eugénia de Vasconcellos não corrigia o Manuel S. Fonseca, tentei enfadá-lo com o que me acontecia a mim, que não sou escritor.

Outro dia li de alguém - importante nessa coisa da arte de bem escrever, não lembro agora quem... -, a exposição de uma “rotina” que em tudo coincidia com aquela que me sucede a mim. Nos rabiscos quase ilegíveis (até para mim próprio) sucede-se um estrebucho de frases aparentemente aleatórias que vão sendo grosseiramente costuradas por asteriscos e setas. Sempre em papel e com esferográficas descartáveis que me fazem sofrer muito. (Desisti das canetas porque são caras e estava sempre a perdê-las).
Não que eu saiba escrever, porque não sei. E sei porque li demasiadas coisas para me poder consentir a indulgência de pensar tal coisa.
E raramente escrevo. Porque não escrevo quando quero mas apenas quando a escrita me acontece – parece pomposo mas não arranjo outra maneira de dizer a verdade. Não é preguiça porque se fosse capaz de o fazer quando quero, estaria sempre a fazê-lo. E esplendor de paraíso acontece-me quando, no fim, consigo rir apopleticamente com o que acabei de escrever. Nessas ocasiões, a sensação de bem-estar quase se equivale à do bom sexo. Em bom rigor, é mais uma espécie de onanismo porque é completamente dissociada de um qualquer outro que leia ou possa vir a fazê-lo, é um prazer que é todo e só meu.

A primeira frase que escrevi neste comentário (diretamente na caixa) foi “esplendor de paraíso acontece-me quando, no fim, consigo rir apopleticamente com o que acabei de escrever.”
Escrever não é assim tão triste.

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* Texto originalmente escrito em comentário a um post de Manuel S. Fonseca. Por uma qualquer razão (seja porque é demasiado longo, seja porque fui “banido” ou sei lá…) não consegui publicá-lo. Consegui copiá-lo para aqui.

2 comentários:

  1. Caríssimo, não banimos ninguém. Deve ser problema informático, mas não me pergunte que não percebo patavina.
    Gostei muito do que escreveu. Mas acho mal que tenha desistido das canetas. Voltei a usá-las para escrever postais. É uma categoria. Um abraço

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  2. Não falava a sério, não coloquei realmente a hipótese de ter sido “banido”... O “botão” desaparecia quando tentava publicar o comentário e fartei-me.
    O meu afeto por canetas, se não for maior, é pelo menos idêntico ao seu. Apenas sucede que quando perco as esferográficas não fico deprimido ao contrário do que sucede com as canetas.
    Um abraço para si.

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