Mas enquanto a Eugénia de Vasconcellos não corrigia o Manuel S. Fonseca, tentei enfadá-lo com o que me acontecia a mim, que não sou escritor.
Outro dia li de alguém - importante nessa coisa da arte de bem escrever, não lembro agora quem... -, a exposição de uma “rotina” que em tudo coincidia com aquela que me sucede a mim. Nos rabiscos quase ilegíveis (até para mim próprio) sucede-se um estrebucho de frases aparentemente aleatórias que vão sendo grosseiramente costuradas por asteriscos e setas. Sempre em papel e com esferográficas descartáveis que me fazem sofrer muito. (Desisti das canetas porque são caras e estava sempre a perdê-las).
Não que eu saiba escrever, porque não sei. E sei porque li demasiadas coisas para me poder consentir a indulgência de pensar tal coisa.
E raramente escrevo. Porque não escrevo quando quero mas apenas quando a escrita me acontece – parece pomposo mas não arranjo outra maneira de dizer a verdade. Não é preguiça porque se fosse capaz de o fazer quando quero, estaria sempre a fazê-lo. E esplendor de paraíso acontece-me quando, no fim, consigo rir apopleticamente com o que acabei de escrever. Nessas ocasiões, a sensação de bem-estar quase se equivale à do bom sexo. Em bom rigor, é mais uma espécie de onanismo porque é completamente dissociada de um qualquer outro que leia ou possa vir a fazê-lo, é um prazer que é todo e só meu.
A primeira frase que escrevi neste comentário (diretamente na caixa) foi “esplendor de paraíso acontece-me quando, no fim, consigo rir apopleticamente com o que acabei de escrever.”
Escrever não é assim tão triste.
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* Texto originalmente escrito em comentário a um post de Manuel S. Fonseca. Por uma qualquer razão (seja porque é demasiado longo, seja porque fui “banido” ou sei lá…) não consegui publicá-lo. Consegui copiá-lo para aqui.
Caríssimo, não banimos ninguém. Deve ser problema informático, mas não me pergunte que não percebo patavina.
ResponderEliminarGostei muito do que escreveu. Mas acho mal que tenha desistido das canetas. Voltei a usá-las para escrever postais. É uma categoria. Um abraço
Não falava a sério, não coloquei realmente a hipótese de ter sido “banido”... O “botão” desaparecia quando tentava publicar o comentário e fartei-me.
ResponderEliminarO meu afeto por canetas, se não for maior, é pelo menos idêntico ao seu. Apenas sucede que quando perco as esferográficas não fico deprimido ao contrário do que sucede com as canetas.
Um abraço para si.